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Aleitamento Materno e Neurodiversidade: o que profissionais precisam saber

No Congresso de Lactância Materna em Montevidéu, participei de uma palestra que considero uma das mais necessárias e urgentes dentro da saúde materno-infantil. A psicóloga argentina Lic. Mónica Tesone apresentou o tema:

“Aleitamento Materno e Espectro Autista: Perspectivas desde a Diversidade Neurológica e o Acompanhamento Clínico.”

A fala dela trouxe uma profundidade rara e abriu espaço para discussões que ainda engatinham — mas que precisam ganhar voz.


Por que precisamos falar sobre amamentação e neurodiversidade?


Vivemos um cenário em que o diagnóstico de TEA cresce mundialmente. Estima-se que 1 em cada 36 crianças esteja dentro do espectro, número que reforça a necessidade de preparo profissional desde os primeiros meses de vida.

Apesar disso, ainda falamos muito pouco sobre como apoiar mães e bebês neurodiversos durante a amamentação. E esse silêncio tem consequências.

Amamentar não é uma experiência padronizada. Para muitas famílias, a neurodiversidade impacta diretamente:

  • o comportamento de busca do bebê,

  • a regulação sensorial,

  • o tônus oromotor,

  • e a capacidade de organização do ato de mamar.

Esses fatores tornam o manejo mais complexo — e também mais singular.


A importância do raciocínio clínico individualizado

Um dos pontos mais fortes da palestra de Mónica Tesone foi a necessidade de abandonar abordagens rígidas e generalistas. No contexto da neurodiversidade, protocolos engessados falham.

O que se faz indispensável é algo que deveria ser básico, mas ainda não é universal: Raciocínio clínico individualizado, sensível e baseado em evidências.

Profissionais precisam estar preparados para olhar além do “passo a passo” e compreender profundamente a díade mãe-bebê que está diante de si.


Lições essenciais destacadas no congresso

A palestra reforçou pontos que considero fundamentais para quem atua na área:

✔ Reconhecer sinais de neurodiversidade precocemente

A observação clínica nos primeiros meses abre portas para intervenções mais ajustadas.

✔ Integrar intervenções de forma precoce e multidisciplinar

Cuidado compartilhado gera resultados mais sólidos e sustentáveis.

✔ Respeitar singularidades sensoriais e motoras

Cada bebê organiza sua experiência de forma única — e isso precisa ser honrado.

✔ Considerar o papel do ambiente

Estímulos, ruídos, texturas, rotinas e acolhimento influenciam diretamente no ato de mamar.


A experiência clínica confirma: cada caso é único

Na minha prática como fisioterapeuta e consultora internacional de amamentação (IBCLC), vejo diariamente o impacto transformador de um manejo verdadeiramente personalizado.

Quando ajustamos:

  • necessidades sensoriais,

  • demandas motoras,

  • condições clínicas,

  • e aspectos emocionais da família,

os resultados são mais consistentes, respeitosos e humanizados.

Amamentar no contexto da neurodiversidade é absolutamente possível. Mas exige preparo, escuta ativa e uma postura profissional que reconhece a complexidade de cada história.


Que esse debate cresça — ele é urgente e necessário


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Falar sobre amamentação e neurodiversidade é abrir espaço para famílias que muitas vezes se sentem invisíveis ou culpabilizadas. É garantir que profissionais estejam mais bem preparados. É contribuir para uma sociedade mais informada e acolhedora.

Que essa conversa se expanda. Que mais profissionais se interessem. Que mais mães e bebês encontrem apoio seguro, científico e sensível.

Afinal, quando entendemos a singularidade de cada díade, oferecemos um cuidado que transforma.

 
 
 

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