Aleitamento Materno e Neurodiversidade: o que profissionais precisam saber
- Virginia Ferreira

- há 1 dia
- 2 min de leitura
No Congresso de Lactância Materna em Montevidéu, participei de uma palestra que considero uma das mais necessárias e urgentes dentro da saúde materno-infantil. A psicóloga argentina Lic. Mónica Tesone apresentou o tema:
“Aleitamento Materno e Espectro Autista: Perspectivas desde a Diversidade Neurológica e o Acompanhamento Clínico.”
A fala dela trouxe uma profundidade rara e abriu espaço para discussões que ainda engatinham — mas que precisam ganhar voz.
Por que precisamos falar sobre amamentação e neurodiversidade?
Vivemos um cenário em que o diagnóstico de TEA cresce mundialmente. Estima-se que 1 em cada 36 crianças esteja dentro do espectro, número que reforça a necessidade de preparo profissional desde os primeiros meses de vida.
Apesar disso, ainda falamos muito pouco sobre como apoiar mães e bebês neurodiversos durante a amamentação. E esse silêncio tem consequências.
Amamentar não é uma experiência padronizada. Para muitas famílias, a neurodiversidade impacta diretamente:
o comportamento de busca do bebê,
a regulação sensorial,
o tônus oromotor,
e a capacidade de organização do ato de mamar.
Esses fatores tornam o manejo mais complexo — e também mais singular.
A importância do raciocínio clínico individualizado
Um dos pontos mais fortes da palestra de Mónica Tesone foi a necessidade de abandonar abordagens rígidas e generalistas. No contexto da neurodiversidade, protocolos engessados falham.
O que se faz indispensável é algo que deveria ser básico, mas ainda não é universal: Raciocínio clínico individualizado, sensível e baseado em evidências.
Profissionais precisam estar preparados para olhar além do “passo a passo” e compreender profundamente a díade mãe-bebê que está diante de si.
Lições essenciais destacadas no congresso
A palestra reforçou pontos que considero fundamentais para quem atua na área:
✔ Reconhecer sinais de neurodiversidade precocemente
A observação clínica nos primeiros meses abre portas para intervenções mais ajustadas.
✔ Integrar intervenções de forma precoce e multidisciplinar
Cuidado compartilhado gera resultados mais sólidos e sustentáveis.
✔ Respeitar singularidades sensoriais e motoras
Cada bebê organiza sua experiência de forma única — e isso precisa ser honrado.
✔ Considerar o papel do ambiente
Estímulos, ruídos, texturas, rotinas e acolhimento influenciam diretamente no ato de mamar.
A experiência clínica confirma: cada caso é único
Na minha prática como fisioterapeuta e consultora internacional de amamentação (IBCLC), vejo diariamente o impacto transformador de um manejo verdadeiramente personalizado.
Quando ajustamos:
necessidades sensoriais,
demandas motoras,
condições clínicas,
e aspectos emocionais da família,
os resultados são mais consistentes, respeitosos e humanizados.
Amamentar no contexto da neurodiversidade é absolutamente possível. Mas exige preparo, escuta ativa e uma postura profissional que reconhece a complexidade de cada história.
Que esse debate cresça — ele é urgente e necessário

Falar sobre amamentação e neurodiversidade é abrir espaço para famílias que muitas vezes se sentem invisíveis ou culpabilizadas. É garantir que profissionais estejam mais bem preparados. É contribuir para uma sociedade mais informada e acolhedora.
Que essa conversa se expanda. Que mais profissionais se interessem. Que mais mães e bebês encontrem apoio seguro, científico e sensível.
Afinal, quando entendemos a singularidade de cada díade, oferecemos um cuidado que transforma.

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